Dossiê: Homenagem a João Wanderley Geraldi
Dossiê: homenagem a João Wanderley Geraldi
Em 2024, o livro O texto na sala de aula - grande marco que ajudou a consolidar a virada do ensino tradicional prescritivo e normativo para uma perspectiva enunciativa e discursiva de ensino de línguas no Brasil - faz 40 anos. Esse livro e outros de João Wanderley Geraldi, como Portos de passagem (1991), Linguagem e Ensino: exercícios de militância e divulgação (1996), A aula como acontecimento (2010), certamente devem figurar as referências de um pesquisador ético e responsável quanto a qualquer eixo de ensino ligado à educação linguística no país. São obras que também se encontram recomendadas em planos de ensino de cursos de Licenciatura em Letras e de formação continuada de professores. São lidas nos campos da educação, dos estudos da linguagem e outros. Nessas discussões, Geraldi não apresenta receitas, mas se revela um pesquisador crítico, comprometido de maneira ética, responsável e politicamente com a vida social.
Seu ponto de partida é pensar novas concepções de sujeito, de língua, de aula, de interação professor-alunos e, por adição, novas compreensões para o trabalho com todas as práticas de linguagem. Junto com isso, lança a inaugural proposta de prática de análise linguística - prática reflexiva e cognitiva que se alinha às demais - a dissolver o ensino centrado na gramática. No entanto, dialógico em sua natureza de pesquisador ético, Geraldi não despreza o ensino dessa gramática, mas propõe sua recolocação no interior da prática de análise linguística.
Geraldi - o homem pesquisador - assume um posicionamento axiológico de reconhecimento do importante papel representacional da linguagem e costura suas proposições no fio da relação entre as linguagens, ideologias e sujeitos, arguindo por uma educação linguística comprometida com a vida, que abarque as dimensões discursivas e enunciativas, axiológicas, ou ideológicas, da linguagem.
Junto com outros companheiros, João Wanderley trava uma luta para que não se ensine apenas o nome de estruturas sintáticas a meninos que passam fome, mas que se ensine, por exemplo, que “eu quebrei o prato e o prato se quebrou” constituem-se formas diferentes e possíveis de se representar o quanto assumimos responsavelmente nossos atos, sem ou na busca de álibis, ao enunciarmos em dada situação em que nos colocamos como sujeitos com e perante outros e, por consequência, operamos com e sobre a linguagem.
Além de promover esse debate, Geraldi foi um pesquisador que empreendeu ações reais. Nos anos 1980 e 1990, trabalhou com formação de professores, a divulgar suas reflexões, críticas e propostas renovadas de ensino. Ele pensou o Brasil por meio de uma proposta de educação linguística que fosse significativa para o país.
As vozes de Geraldi não se esgotaram. Pelo contrário, ainda precisam ser reverberadas, mais bem ouvidas. Por isso, a Revista Educação e Linguagens convida pesquisadores éticos e responsáveis a colaborarem com o “Dossiê: homenagem a João Wanderley Geraldi”, para reunir em uma só arquitetura as leituras que fazemos desse importante cientista da linguagem ou com sua ajuda.
A modalidade de discussões inclui artigos cuja base teórica envolva contribuições dos estudos enunciados por Geraldi direcionadas à leitura, à escrita, à análise linguística, à oralidade, à aula, à formação de professores, ou pressupostos entrelaçados ou interpretados à luz de outros desenvolvimentos teóricos dos campos da educação e da linguagem.
Organizadoras: Adriana Beloti (Unespar/Campo Mourão), Adriana Delmira Mendes Polato (Unespar/Campo Mourão), Márcia Cristina Greco Ohuschi (UFPA/PA).