Está aberta chamada para o Dossiê “Vigiar e punir 50 anos depois: discursos de vigilância, controle e movimentos de contraconduta”
Dossiê “Vigiar e punir 50 anos depois: discursos de vigilância, controle e movimentos de contraconduta”
Michel Foucault foi um grande expoente do pensamento francês no século XX. Com seus estudos à frente da Cátedra História dos Sistemas de Pensamento do Collège de France, elaborou um conjunto de noções e de conceitos que questionam o modo de fazer ciência moderna ocidental, assim como colocam em suspenso qualquer sentido transcendental de saber, de poder e de verdade.
Sua proposta de traçar um diagnóstico do presente nos impele a examinar as condições de possibilidade e as regras históricas que sustentam a formulação dos discursos, guiando-nos pelo seguinte questionamento: “quem somos nós hoje?”, a qual acrescentamos: “o que as práticas discursivas fazem de nós hoje e como é possível mover-se pelas brechas do poder?”.
Tendo por princípio o sujeito e o discurso como singularidades históricas, as ideias desse filósofo encontram-se distribuídas em uma obra extensa, mas que podem ser organizadas em torno de um método chamado arqueogenealógico, a partir do qual é possível cartografar os jogos de poder-saber que validam os discursos, legitimam certas verdades e subjetivam os sujeitos.
Em 2025, comemoram-se os 50 anos da publicação de seu livro “Vigiar e Punir”. Tomando como mote o nascimento da prisão, Foucault empreende reflexões sobre os processos de sujeição, disciplinamento e normalização dos indivíduos. A partir desta obra, populariza-se a noção de poder como uma rede de relações e, como consequência disso, a inversão de um pensamento que o concebia como centralizado e localizável. Além disso, as reflexões do autor indicavam que a sociedade punitiva moderna é baseada na vigilância contínua e permanente.
No decorrer de seus estudos, o autor publicou ainda outras obras que relacionaram esses jogos de poder à verdade e às subjetividades. Portanto, a tese de que somos sujeitos vigiados não se encontra desenvolvida somente na referida obra. Em outras publicações, Foucault analisa o olho do poder sobre os corpos, descrevendo seus modos de enunciação e formas de visibilidade, em saberes como o da Medicina e o da Psiquiatria e em dispositivos, como os da sexualidade e da segurança. Deleuze, por sua vez, realiza um movimento na história dos mecanismos de vigilância dos corpos, oferecendo uma análise que se desloca de sociedade disciplinar para o que chama de sociedade do controle.
As reflexões de Foucault são um convite para que problematizemos a experiência dos sujeitos em relação às práticas discursivas, que os constituem como objeto do pensamento, bem como o exercício do poder sobre os corpos e os movimentos de contraconduta implicados.
Com o propósito de dar relevo às contribuições do pensamento foucaultiano para os estudos da linguagem, este dossiê tem por objetivo acolher trabalhos que realizem uma cartografia dos processos de objetivação e de subjetivação, tendo como norte o enunciado, inserido em domínios associativos distintos e atravessados por estratégias de governamentalidade que tentam conduzir a vida cotidiana dos sujeitos, na tentativa de controlar e disciplinar seus corpos. Partindo da premissa de que o poder só se exerce sobre sujeitos livres, contemplam-se, também, análises que interrogam e descrevem as possibilidades de resistência.
A partir dessa visada, as análises foucaultianas de discursos teriam por finalidade dar evidência ao modo como os sujeitos são produzidos no e pelo discurso, sendo, ao mesmo tempo, constituídos pelas regras de formação, objetivados e disciplinados nas relações de poder, contudo podendo exercer práticas de liberdade agonísticas, que lhes permitem reinventar, de modo mais inclusivo, outras formas de gestão para si e para o outro.
As submissões podem ser feitas exclusivamente pelo portal da revista, de acordo com as normas estipuladas.
Organizadores:
Adélli Bortolon Bazza
Pedro Navarro
Regina Baracuhy
Período de submissão: 1/11/2024 a 1/3/2025
Previsão de Publicação: junho/2025