A EXPERIÊNCIA DA SURDEZ NARRADA A PARTIR DE MÚLTIPLAS SENSORIALIDADES: PENSAMENTOS A PARTIR DE RELATOS AUTOBIOGRÁFICOS
DOI:
https://doi.org/10.33871/2317417X.2020.13.2.3795Resumen
O trabalho apresenta dois relatos autobiográficos de uma pessoa surda a respeito de suas vivências e memórias e que são tomados como ponto de partida para pensar como essas narrativas singulares podem desenhar uma surdez mais à margem do que vem sendo construído por narrativas mais amplas, que ora apresentam a surdez como deficiência, como um corpo "que não funciona" , ora como diferença e, nessa direção, tendo fundamentalmente a língua de sinais como aspecto constitutivo de uma identidade surda única. Nesse sentido, discuto brevemente a necessidade da defesa da surdez como uma categoria semi-fictícia e semi-necessária, buscando através de um percurso metodológico que faz uso das narrativas autobiográficas como dispositivos para a (re)organização de representações sobre si, fazer reverberar também o que diz uma pessoa surda sobre suas memórias particulares e sobre suas vivências cotidianas, no exercício de dar a ver modos singulares de compreensão e de experiência da surdez a partir de outras sensorialidades.Descargas
Citas
ARFUCH, L. O espaço biográfico: dilemas da subjetividade contemporânea. Tradução Paloma Vidal. Rio de Janeiro: UERJ, 2010.
BHABHA, H. K. O pós-colonial e o pós-moderno: a questão da agência. In: O local da cultura. Tradução M. ívila; E. L. L. REIS; G. R. GONÇALVES. Belo Horizonte: UFMG, 2003.
BISOL, C.; SPERB, T. M. Discursos sobre a surdez: deficiência, diferença, singularidade e construção de sentido. Psicologia: teoria e pesquisa, v. 26, n. 1, p.7-13, 2010.
BRITO, F. B. O movimento social surdo e a campanha pela oficialização da língua brasileira de sinais. Tese de Doutorado em Educação Especial. Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, 2013.
BURKE, P. História dos acontecimentos e o renascimento da narrativa. In: A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: Unesp, 1992.
FARGE, A. O sabor do arquivo. Tradução Fátima Murad. São Paulo: Edusp, 2009.
GUATTARI, G.; ROLNIK, S. Micropolítica. Cartografias do desejo. Petrópolis: Vozes, 1993.
HERRERA, M. C. Narrativa testimonial sobre violência política y formacion de subjetividades. In: ARANGO, G. J. (org.). Narraciones de experencia en educación y pedagogia de la memória. Buenos Aires: UBA, 2015.
KLEIN, M.; LUNARDI, M. L. Surdez: um território de fronteiras. ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v. 7, n. 2, p. 14-23, 2006.
KRISTEVA, J. Estrangeiros para nós mesmos. Tradução M. Carlota C. Gomes. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.
MIGNOLO, W. D. Desobediência epistêmica: a opção descolonial e o significado de identidade em política. Caderno de Letras da Universidade Federal Fluminense – Dossiê literatura, língua e identidade, n. 34, p. 287-324, 2008.
MOITA, M. C. Percursos de Formação e de Trans-Formação. In: NÓVOA, A. Vidas de Professores. Porto: Porto Editora, 1995.
MULLER, J. I.; MIANES, F. L. Narrativas autobiográficas de surdos ou de pessoas com deficiência visual: análise de identidades e de representações. Revista Brasileira Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 97, n. 246, p. 387-401, 2016.
PAGNI, P.; MARTINS, V. R. O. Corpo e expressividade como marcas constitutivas da diferença ou do ethos surdo. Revista Educação Especial, v. 32, 2019.
PASSEGGI, M.; NASCIMENTO, G.; OLIVEIRA, R. As narrativas autobiográficas como fonte e método de pesquisa qualitativa em educação. Revista Lusófona de Educação, v. 33, p. 111-125, 2002.
PATROCíNIO, P. R. T. Notas sobre narrativas autobiográficas de autores surdos. Revista Araticum, v. 21, n. 1, p. 91-103, 2020.
PERLIN, G. Identidades surdas. In: SKLIAR, C. (org.). A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 1998.
QUADROS, R. M. Apresentação. In: STROBEL, K. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis: Editora da UFSC, 2018.
RANGEL, G. M. M. História cultural da pedagogia dos surdos: 15 anos depois. In: PERLIN, G; STUMPF, M. (orgs). Um olhar sobre nós surdos – leituras contemporâneas. Curitiba: Editora CRV, 2012.
RÖWER, J. E. Por uma sociologia da suspensão: ensino de sociologia e narrativas como dispositivo de formação. 206 p. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2016.
SANCHEZ, C. La increible y triste historia de la sordera. Merida, Venezuela: CEPROSORD, 1990.
SOUSA SANTOS, B. Modernidade, identidade e a cultura de fronteira. Tempo Social – Revista de Sociologia da USP. São Paulo, p. 31-52, 1994.
SOUSA SANTOS, B. Esquerdas do mundo, uni-vos! São Paulo: Boitempo, 2018.
SOUZA, M. R. Que palavra que te falta? Linguística e educação: considerações epistemológicas a partir da surdez. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
SKLIAR, C. Os Estudos Surdos em Educação: problematizando a normalidade. In: SKLIAR, C. (org.). A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 1998.
SILVA, R. F. Os dramas da pesquisa ou sobre escrita acadêmica e vida. Revista ALEGRAR, n. 25, p. 238 – 249, 2020.
SOUSA, M. J. F.; SANTOS, R. A. F. A autorrepresentação do sujeito surdo na autobiografia da autora surda Shirley Vilhalva. Revista de Letras da Universidade do Estado do Pará – UEPA, p. 4-15, 2018.
STROBEL, K. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis: Editora da UFSC, 2018.