Gênero, sexualidade e ensino de biologia: o que pode um corpo estranho nos currículos de biologia?
DOI:
https://doi.org/10.33871/22386084.2020.9.17.180-200Resumen
Os corpos, gêneros e sexualidades foram e continuam sendo campos de embates políticos acirrados. Nos últimos anos, temos visto a recrudescência de movimentos conservadores no cenário político brasileiro e latino-americano, que no campo educacional vem defendendo novas tentativas de controle moral da educação, sobretudo em questões que envolvem discursos de gênero e sexualidade. Entre as estratégias discursivas dessa ofensiva conservadora estão o resgate e naturalização das concepções de “família”, “homem”, “mulher”, “sexualidade” e “corpo”. A partir desse contexto, nesse trabalho em caráter ensaístico, traço como objetivos: (a) refletir sobre que corpo humano cabe no ensino de ciências e biologia, tendo como lastro os estudos de gênero e sexualidade, e quais as possíveis consequências que a perspectiva privilegiada pode trazer para a formação dos sujeitos envolvidos nessa prática; e (b) problematizar os efeitos da concepção hegemônica na significação dos corpos e na produção das diferenças. Assim, analisamos que as práticas curriculares hegemônicas no Ensino de Ciências e Biologia têm nos instado a pensarmos nossos corpos a partir de uma linguagem “biologicista”, eclipsando outras linguagens, outros modos de significar os corpos, e dessa maneira reiterando uma estrutura social cisheteronormativa que precariza as condições de vida de algumas pessoas ao produzi-las como anormais, dissidentes, ou mesmo inexistentes. Chegamos às conclusões desse ensaio afirmando a importância de aguçarmos nossos ouvidos para ouvirmos a pluralidade, fortalecendo as possibilidades de resistência e a criatividade dos modos de vida, a fim de alargar as possibilidades de constituição de corpos e vidas “vivíveis”.