Um longo caminho: a aprovação da lei 10.639/03 como fruto da luta do movimento social negro pelo direito à educação (1889-2003)

Autores

  • Ricardo Tadeu Caires Silva Unespar- Campus de Paranavaí­
  • Angelina Duarte Professora de História lotada na Secretaria Estadual de Educação do Paraná (SEED),

DOI:

https://doi.org/10.33871/23594381.2018.16.3.2244

Resumo

O presente texto busca reconstituir o longo caminho de lutas percorrido pelo movimento social negro até a promulgação da lei 10.639/03, que tornou obrigatório o Ensino da História e da Cultura Afro-Brasileira nos estabelecimentos de Ensino Fundamental e Médio no Brasil, cuja finalidade maior é a alteração do quadro de exclusão e invisibilidade com que a história e a cultura africana e afro-brasileira foram tratadas durante a maior parte da nossa história. Para tanto, realizamos uma revisão crí­tica da literatura sobre a História do movimento social negro, da educação dos negros no Brasil, bem como da legislação educacional brasileira. Como resultado, chegamos à conclusão de que o direito à educação sempre figurou como importante bandeira de luta do movimento negro brasileiro com vistas à conquista da cidadania plena por parte dos afrodescendentes. Nesse sentido, é possí­vel constatar que durante e ao longo de todo o regime republicano os negros procuraram se organizar para reivindicar o acesso à educação escolar, em seus diferentes ní­veis, bem como a inserção da História da África nos currí­culos escolares. Assim, ainda que a lei 10.639/03 não tenha incorporado todas as reivindicações do mencionado movimento, ela não deixa de trazer a forte marca das aspirações de ao menos três gerações de combativos militantes.

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Biografia do Autor

Ricardo Tadeu Caires Silva, Unespar- Campus de Paranavaí­

possui Graduação (1997) e Mestrado (2000) em História pela Universidade Federal da Bahia, e Doutorado pela Universidade Federal do Paraná (2007). Atualmente é professor Associado B da Universidade Estadual do Paraná- Unespar, lotado no Colegiado de História da Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí­-Pr. É professor permanente no Programa de Pós-Graduação (Mestrado) em Formação Docente Interdisciplinar -PPIFOR e também no PROFHistória -Unespar. Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil Império, atuando principalmente nos seguintes temas: Bahia, escravidão, século XIX, legislação emancipacionista, ações cí­veis de liberdade; Lei 10.639/03 e o ensino de História e cultura africana e afro-brasileira e a educação dos negros no Brasil.

Angelina Duarte, Professora de História lotada na Secretaria Estadual de Educação do Paraná (SEED),

Possui graduação em Licenciatura Plena em Letras, pela Universidade Regional do Nordeste (1981), Especialização em Ensino de Lí­ngua portuguesa e Literatura, pela UFPB, e em Literatura e Interculturalidade, pela UEPB. Concluiu o Mestrado Interdisciplinar em Ciências da Sociedade - área de concentração: educação, linguagem e diversidade cultural -, pela UEPB (2006), tendo sido aprovada com distinção na defesa da dissertação: Se essa rua fosse minha, eu mandava grafitar!!!: a construção discursiva do grafite de muro em Campina Grande - PB. Concluiu o Doutorado em Sociologia - área de concentração: estudos culturais, pela UFPB (2010), tendo sido aprovada com distinção na defesa da tese: A sociedade "secreta" de pichadores/as e grafiteiros/as em Campina Grande - PB. Tem experiência docente, nos ní­veis fundamental, médio e superior, na área de Letras, com ênfase em Lí­ngua Portuguesa e Linguí­stica. Possui também experiência docente - ní­vel superior -, em Metodologia Cientí­fica. Desde a pesquisa do Mestrado, tem direcionado seus estudos para a Análise de Discurso Crí­tica - Teoria Social do Discurso, na proposta de Fairclough.

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Publicado

2018-09-27