Game ou superromance?
sobre jogar e ler games-romance gigantescos
DOI:
https://doi.org/10.33871/19805071.2024.31.2.9909Palavras-chave:
Romance, Videogames, Teoria do romance, Game studies, Teoria literáriaResumo
Já faz meio século que máquinas digitais emprestam seu poder computacional a mundos diegéticos baseados em texto midiático, na forma de softwares que chamamos de games, videogames ou, às vezes, ficção interativa. Talvez o primeiro deles tenha sido o simples jogo de labirinto e monstros de Gregory Yob, Hunt the Wumpus (1973), mas desde então os games (se é que devem ser chamados assim) se tornaram maiores e muito mais complexos e, nas últimas décadas, uma única obra desse tipo pode conter mais texto do que, por exemplo, todas as peças de Shakespeare. Devido a esse enorme conteúdo textual, bem como à natureza frequentemente experimental e inovadora dessas obras, elas também podem ser consideradas como uma nova forma de romance; um tipo de texto que tem muito mais em comum com a literatura do que com outros games digitais, como Candy Crush Saga, Age of Empires ou Counter-Strike. Nesses “games”, encontramos personagens complexos, escolhas éticas difíceis (deixadas para o jogador), paisagens e mitologias imaginativas e milhares, se não milhões, de linhas de prosa cuidadosamente elaboradas. Equipes de escritores trabalham coletivamente para unir esses universos textuais sob condições de produção que podem nos lembrar grandes séries de TV de múltiplas temporadas, mas que ao mesmo tempo são estruturadas e consumidas de forma muito diferente — na verdade, mais parecidas com a literatura do que com a TV. A afirmação feita neste artigo é que a perspectiva do romance (ou superromance) é produtiva para entender a natureza dessas obras artísticas de software lúdico. Devem elas ser consideradas literatura? Por meio de uma discussão sobre as noções de literatura, romance e ficção e de uma leitura lúdica atenta de Fallout: New Vegas (2010), argumentarei que esses games textuais são de fato literatura, um novo tipo de gênero de romance, e discutirei as implicações culturais mais amplas dessa avaliação.
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