Kelly Reichardt e Ursula K. Le Guin
práticas situadas de fabulação especulativa
DOI :
https://doi.org/10.33871/19805071.2025.33.2.10900Mots-clés :
Kelly Reichardt, Ursula K. Le Guin, Ficção EspeculativaRésumé
Nossa proposta com este artigo é investigar uma possível relação de parentesco entre o trabalho fabulativo da cineasta Kelly Reichardt em O Atalho (Meek’s Cutoff, 2010), seu primeiro filme “de época”, e algumas proposições da obra ficcional e ensaística da autora de ficção especulativa Ursula K. Le Guin.
Estabelecemos, como ponto de partida, o próprio território a partir do qual tais histórias foram tecidas – o estado do Oregon, EUA – onde as duas autoras escolheram se basear e para o qual dirigiram muitos de seus questionamentos a respeito das narrativas que lhes foram tradicionalmente transmitidas sobre a história do país. Ambas partilham uma curiosidade comum sobre o papel das mulheres na composição deste território, e buscam resgatar tais narrativas, que foram soterradas pela história pública masculinista, a história da pátria. Como fizeram historicamente tais mulheres, escolhem entrar em relação com outras perspectivas, outras visões de mundo para além do paradigma moderno, buscando fabular “um mundo onde muitos mundos caibam”[1].
Nossa investigação buscará compreeender de que maneira essas especulações que caminham no sentido contrário ao da narrativa tecnoheróica, propondo, no lugar das políticas de aniquilamento e dominação, práticas de aliança entre alteridades pela sobrevivência, essas duas autoras não só contrariam as expectativas usuais dos gêneros dentro dos quais trabalham (o western e a ficção científica), como também geram reflexões sobre as possibilidades de existência em um mundo que não é só o de ontem ou o de amanhã, mas também o de hoje.
[1] Referimo-nos a uma passagem da “Quarta Declaração da Selva Lacandón” do exército zapatista, resgatada pela antropóloga Marisol de La Cadena para defender uma aliança entre práticas heterogêneas de fazer mundo como estratégia de sobrevivência: “Muitos mundos são caminhados no mundo. Muitos mundos são feitos. Muitos mundos nos fazem. Existem palavras e mundos que são mentiras e injustiças. Existem palavras e mundos que são sinceros e de verdade. No mundo dos poderosos só há espaço para os grandes e seus ajudantes. No mundo que queremos, todos cabem. O mundo que queremos é um mundo onde muitos mundos caibam (EZLN, 1996). “
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Références
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