A CARNE QUE SOBRA
O GROTESCO COMO OPERAÇÃO HETEROLÓGICA NA OBRA DE SIBYLLE RUPPERT
DOI:
https://doi.org/10.33871/sensorium.2025.12.11118Palavras-chave:
Grotesco, Heterologia, Informe, Excesso, TransgressãoResumo
Este artigo investiga a obra da artista alemã Sibylle Ruppert, destacando-a como uma manifestação do grotesco que desafia e ultrapassa as classificações artísticas tradicionais por meio do obsceno, da violência e do absurdo. A partir de uma distinção com a biomecânica de H. R. Giger, o estudo propõe que o grotesco em Sibylle Ruppert não se limita à fusão entre orgânico e máquina, mas opera como um processo de desestabilização alinhado à heterologia de Georges Bataille. A análise articula o grotesco com os conceitos de informe e heterologia, com o propósito de demonstrar como a artista dissolve as fronteiras corporais para expor uma materialidade obscena e irredutível, abordada como “carne-em-excesso”. Por meio da análise de seus desenhos, especialmente as séries para o Marquês de Sade e Lautréamont, e da comparação com a lógica do “corpo anagramático” de Hans Bellmer, o artigo investiga como Sibylle Ruppert utiliza a fragmentação, a montagem e a metamorfose para criar um universo onde não há síntese possível. Conclui-se que a obra da artista alemã mobiliza o grotesco não apenas como excesso formal, mas como uma operação heterológica que encena o colapso da forma e da razão, transformando a fantasia onírica associada ao grotesco em uma vertigem de pesadelo, onde a única constante é a tensão irresolvível entre forças opostas.
Downloads
Referências
ASTRUC, Rémi. Le Renouveau Du Grotesque Dans Le Roman Du Xxe Siecle: Essai d'Anthropologie Litteraire. Paris: Classiques Garnier, 2010.
BACHELARD, Gaston. Lautréamont. Translated by Robert S. Dupree. Dallas: The Pegasus Foundation, 1986.
BAKHTIN, Mikhail Mithailovitch. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. Tradução de Yara Frateschi Vieira. São Paulo: HUCITEC; Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1987.
BATAILLE, Georges. A literatura e o mal. Tradução de Suely Bastos. Porto Alegre: L&PM, 1989.
BATAILLE, Georges. Documents. Tradução de João Camillo Penna e Marcelo Jacques de Moraes. Florianópolis: Cultura e Barbárie, 2018.
BATAILLE, Georges. Oeuvres complètes I. Paris: Gallimard, 1970a.
BATAILLE, Georges. Oeuvres complètes II. Paris: Gallimard, 1970b.
BELLMER, Hans. Petite anatomie de l’inconscient physique ou l’anatomie de l’image. Paris: Éditions Allia, 2008.
BLANCHOT, Maurice. Lautréamont e Sade. Tradução de Eclair Antonio Almeida Filho. São Paulo: Lumme Editor, 2014.
BOIS, Yve-Alain; KRAUSS, Rosalind. Formless: a user’s guide. New York: Zone Books: 1999.
CARROLL, Noël. A Filosofia do Horror ou paradoxos do coração. Campinas: Papirus: Ed, Unicamp, 1993.
CONNELLY, Frances S. The grotesque in western art and cultures: the image at play. New York: Cambridge University Press, 2012.
CRÉTÉ, Marielle. Bellmer's biography. In: Hans Bellmer: catalogue of exhibition. Paris: CNACarchives, 1971.
CROWLEY, Patrick; HEGARTY, Paul (Orgs.). Formless: way in and out of form. Bern: Peter Lang, 2005.
EDWARDS, Justin D.; GRAULUND, Rune. Grotesque. London; New York: Routledge, Taylor & Francis Group, 2013.
ERNST, Max. Une semaine de bonté: a surrealistic novel in collage. New York: Dover Publications, 1976.
GASCHÉ, Rodolphe. The Heterological Almanac. In: BOLDT-IRONS, Leslie Anne (Org.). On Bataille: Critical Essays. Albany: State University of New York Press, 1995.
GLASER, Horst Albert. Ein materialistischer Allegoriker der Lust (Um Alegorista Materialista da Volúpia). In: BELLMER, Hans. Bellmer- Graphik. Köln: Studio 69, 1970.
HANSEN, Maria Fabricius. The Art of Transformation: Grotesques in Sixteenth-Century Italy. Rome: Edizioni Quasar di Severino Tognon, 2018
HARPHAM, Geoffrey Galt. On the grotesque: strategies of contradiction in art and literature. New Jersey: Princeton University Press, 2006.
HOLLIER, Denis. Against architecture: the writings of Georges Bataille. Trad. Besty Wing. Massachusetts: The MIT Press, 1989.
JOUFFROY, Alain. Bellmer. Chicago: Copley Foundation, 1960.
KAYSER, Wolfgang. O grotesco. Tradução de J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 1986.
KLOSSOWSKI, Pierre. Sade, meu próximo. Precedido de O filósofo celerado. Tradução de Armando Ribeiro. São Paulo: Brasiliense, 1985.
LAUTRÉAMONT, Comte de. Os cantos de Maldoror. Tradução de Cláudio Willer. São Paulo: Iluminuras, 2018.
LIBERTSON, Joseph. Bataille and communication: savoir, non-savoir, glissement, rire. In: BOLDT-IRONS, Leslie Anne (Org.). On Bataille: critical essays. Albany: State University of New York, 1995.
MERQUIOR, José Guilherme. A escola de Bocage. In: MERQUIOR, José Guilherme. Razão do poema: ensaios de crítica e de estética. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1965.
NAKAS, Kassandra; ULLRICH, Jessica (Orgs.). Scenes of the Obscene: The Non‑representable in Art and Visual Culture, Middle Ages to Today. Weimar: VDG, Verlag und Datenbank für Geisteswissenschaften, 2014.
RUPPERT, Sibylle. Dessins pour Lautréamont. Prefácio de Alain Robbe-Grillet. Paris: Galerie Bijan Aalam; Cébazat: Natiris, 1980.
SADE, Donatien Alphonse François de. Os 120 dias de Sodoma ou a escola da libertinagem. Tradução de Alain François. São Paulo: Iluminuras, 2008.
SADE, Donatien-Alphonse-François, marquis de. Die Philosophie im Boudoir. Tradução de Rolf e Hedda Soellner. Ilustrações de Sibylle Ruppert; introdução de Guillaume Apollinaire; posfácio de Jacques Lacan. Edição de Axel Matthes. München: Rogner & Bernhard, 1972.
THACKER, Eugene. Tentacles longer than night (Horror of philosophy vol. 3). Washington: Zero Books, 2015.
WEBB, Peter; SHORT, Robert. Hans Bellmer. London: Quartet Books, 1985.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Art&Sensorium

Esta obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Attribution 3.0 Unported License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).