Lutas feministas, teatro e pedagogias informais
DOI :
https://doi.org/10.33871/19805071.2023.29.2.8131Mots-clés :
Teatro, Educação, feminismosRésumé
Este artigo apresenta evidências da utilização do teatro por ativistas feministas no Brasil no século XIX e na primeira metade do século XX. Na introdução, abordo as transformações substanciais pertinentes ao reconhecimento e registro da produção de mulheres artistas ao longo do séculos, tradicionalmente ignorada nas historiografias androcêntricas. Aponto que, diferente da ampla difusão da arte de autoria de mulheres, os ativismos feministas nas artes tiveram menos atenção, até mesmo no Norte global, onde as obras dedicadas à arte feminista tendem a destacar nomes da segunda metade do século XX, embora o engajamento político de mulheres feministas tenha se intensificado no século XIX. Dada a diferenciação entre feminismos e movimentos de mulheres, as referências bibliográficas selecionadas na continuidade do texto permitem, mesmo brevemente, apreciar a importância das derivas interdisciplinares nas áreas de Ciência Política e História para ampliar a percepção das manifestações da chamada primeira onda do feminismo no Brasil, frequentemente simplificada quando reduzida às lutas sufragistas a partir dos anos 1920, visto que o sufragismo no Brasil estava em andamento no século XIX. Portanto, além do legado sufragista do século XIX, considero as práticas teatrais dos movimentos anarquista e trabalhista, engendrando pedagogias informais em peças criadas para a difusão do pensamento feminista emancipatório e educação de platéias multiplicadoras dos ideários de equidade e liberdade entre os anos 1890 e 1920.
Téléchargements
Références
ALVAREZ, Sonia E. Engendering Democracy in Brazil. Women’s Movements in Transition Politics. Princeton, New Jersey: Princeton University Press, 1990.
ALVES, Branca Moreira. Ideologia e feminismo: a luta pelo voto no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1980.
ANDRADE [Souto-Maior], Valéria. Índice de dramaturgas brasileiras do século XIX. Florianópolis: Mulheres, 1996.
ANDRADE [Souto-Maior], Valéria. A intuição feminista do agitprop no teatro brasileiro do século XIX. Estudos feministas, Rio de Janeiro, IFCS/UFRJ, v. 5, n. 2, p. 275-289, 1997.
ANDRADE [Souto-Maior], Valéria. O florete e a máscara: Josefina Álvares de Azevedo, dramaturga do século XIX. Curitiba: Secretaria de Estado da Cultura, 1998.
ANDRADE [Souto-Maior], Valéria. Josefina Álvares de Azevedo. In: MUZART, Zahidé Lupinacci. (org.). Escritoras brasileiras do século XIX – Antologia. 2. ed. Florianópolis, 2000, p. 484-499.
ANDRADE [Souto-Maior], Valéria. Entre/linhas e máscaras: a formação da dramaturgia de autoria feminina no Brasil do século XIX. 2001. Tese. (Doutorado em Letras) – Programa de Pós-Graduação em Letras, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa-PB. p. 187-208.
ANDRADE [Souto-Maior], Valéria. Josefina Álvares de Azevedo, teatro e propaganda sufragista no Brasil do século XIX. Acervo Histórico – Revista da Divisão de Acervo Histórico da Assembléia Legislativa de São Paulo, São Paulo, nº. 2, p. 65-82, 2º. sem./2004. Disponível em https://www.al.sp.gov.br/repositorio/bibliotecaDigital/525_arquivo.pdf
ANDRADE, Valéria. Militância sufragista e a peça de conversação no Brasil do século XIX: O Voto Feminino, de Josefina Álvares de Azevedo. Sociopoética – Revista do Programa de Pós-Graduação em Literatura e Interculturalidade (Online), v. 1, n. 6, p. 97-110, 2010.
ANDRADE, Valéria. Dramaturgas brasileiras no século XIX: escritura, sufragismo e outras transgressões. Plural Pluriel: Revue des cultures de langue portugaise, n. 8, printemps-été 2011. [En ligne] www.pluralpluriel.org ISSN 1760-5504.
AZEVEDO, Francisca Nogueira de. Malandros Desconsolados. O diário da primeira greve geral no Rio de Janeiro. Rio do Janeiro: Relume Dumará, 2006.
BARBOSA, Lia Pinheiro, & MAIA, Vinícius Madureira. Nísia Floresta e ainda a controvérsia da tradução de Direitos das mulheres e injustiça dos homens. Revista Estudos Feministas, 28(2), e59012, 2020. Disponível em https://doi.org/10.1590/1806-9584-2020v28n259012
BARROS, Roberta. Elogio ao toque - ou como falar de arte feminista a brasileira. Rio de Janeiro: Editora Relacionarte, 2016.
CAMPOS, Beatriz Luedemann. Companheiras em greve: o movimento paredista da União das Costureiras em junho de 1919. Revista Angelus Novus, ano XII, n. 17, 2021, p. 1-19. Disponível em https://www.revistas.usp.br/ran/article/view/189595/179171
CHADWICK, Whitney. Women, Art, and Society. New York: Thames and Hudson, 1990.
COSTA, Maria Alice; COELHO, Naiara. A(r)tivismo feminista – intersecções entre Arte, Política e Feminismos. IN Confluências, Revista Interdisciplinar de Sociologia e Direito, v. 20, n. 2, 2018, 25-49.
FARIA, João Roberto. Teatro e escravidão no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 2022.
FISCHER, Stela Regina. Mulheres, Performance e Ativismo: a ressignificação dos discursos feministas na América Latina. Tese de Doutorado. Orientadora: Elisabeth Silva Lopes. Programa de Pós-graduação em Artes Cênicas, Universidade de São Paulo, 2017.
FRACARO, Glaucia. Os direitos das mulheres: feminismo e trabalho no Brasil (1917-1937). Rio de Janeiro: FGV Editora, 2018. Disponível em https://editora.fgv.br/produto/os-direitos-das-mulheres-feminismo-e-trabalho-no-brasil-1917-1937-3311
GIULANI, Paola Cappellin. Os movimentos de trabalhadoras e a sociedade brasileira. IN DEL PRIORE, Mary (organização). História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 1997, p. 640-667.
GROSENICK, Uta. Women Artists in the 20th and 21st century. Köln, London, Los Angeles, Madrid, Paris: Taschen America, 2001.
HAHNER, June E. Feminism, Women’s Rights, and the Suffrage Movement in Brazil: 1850-1932. Latin American Research Review, v. XV, n 1, 1980, p. 65-111.
HAHNER, June E. Emancipação do sexo feminino: a luta pelos direitos da mulher no Brasil, 1850-1940. Tradução de Eliane Lisboa. Florianópolis: Ed. Mulheres; Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2003.
HIPÓLIDE, Eduardo Gramani. O teatro anarquista como prática social do movimento libertário (São Paulo e Rio de Janeiro de 1901 a 1922 ). Dissertação de Mestrado, Programa de Estudos Pós-Graduados em História. Orientadora: Maria do Rosário da Cunha Peixoto. São Paulo: PUC-SP, 2012.
KOLMAR, Wendy K; BARTKOWSKI, Frances. Feminist Theory: a Reader. 4th ed. New York: McGraw-Hill, 2013.
LOPREATO, Christina Roquette. O espírito da revolta: a greve geral anarquista de 1917. São Paulo: Annablumme, 2000.
MARTELLO, Laura França. Autonomist feminisms in Brazil: protest politics and feminist self-defense. Translated by Bruna Dantas Lobato. IN Simone Bohn and Charmain Levy, editors. Twenty-First-Century Feminismos: Women’s Movements in Latin America and the Caribbean. Montreal & Kingston; London; Chicago: McGill-Queen’s University Press, 2021, p. 265-291.
MARTINS, Gabriel Otoni Calhau. Cultura anarquista no Rio de Janeiro, educação em espaços não formais. Rio de Janeiro 1906 A 1921.Dissertação de Mestrado em Educação. Orientador: José Damiro de Moraes. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2016. Disponível em http://www.unirio.br/ppgedu/backup/1f4c1produtos/DissertaoPPGEduGABRIELOTONICALHAUMARTINS.pdf
McCANN, Carole; SEUNG-KYUNG, Kim. Feminist Theory Reader: Local and Global Perspectives. New York: Routledge, 2009.
MENDES, Samanta Colhado. As mulheres anarquistas na cidade de São Paulo : 1889-1930. Dissertação de Mestrado em História, Direito e Serviço Social. Orientador: Moacir Gigante. Franca : UNESP, 2010.
NOCHLIN, Linda. Por que não houve grandes mulheres artistas? Trad. Julliana Vacaro. São Paulo: Aurora, 2016.
PARKER, Rozsika; POLLOCK, Griselda, editoras. Framing feminism: Art and the Women’s Movement, 1970-1985. London and New York: Pandora Press, 1995.
PERROT, Michelle. Minha história das mulheres. Trad. Angela M.S, Corrêa. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2017 (1 ed. francesa, 2006).
RAUEN, Margarida G.; RODRIGUES, Marise; ANDRADE, Valeria; SOUZA, Maria Cristina de. Bibliografia selecionada para estudos de mulheres e gênero nos campos de dramaturgia e teatro. IN ALVES, Lourdes Kaminski e MIRANDA, Célia Arns, organizadoras. Teatro e Ensino, v. I. São Carlos: Pedro & Joao Editores, 2017, p. 235-249.
RECKITT, Helena; GOSLING, Lucinda; ROBINSON, Hilary; TOBIN, Amy. The art of feminism. Images that Shaped the Fight for Equality. London: Tate, 2019.
ROSA, María Laura. Debunking the Patriarchy: feminist collectives in Argentina, Bolivia, Chile, and Peru. IN Robinson, Hilary and Busnek, Maria Elena. A Companion to Feminist Art. Hoboken, NJ, USA; Chichester, West Sussex, UK: John Wiley & Sons, Inc., 2019, p. 37-51.
SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani. A mulher na sociedade de classes. Mito e realidade. São Paulo: Quarto Artes, 1969.
SANTOS, Kauan Willian dos. “Reunindo numerosos camaradas”: Organizações políticas anarquistas e libertárias no período da primeira República no Brasil. Revista Estudos Libertários (UFRJ) v. 5, n. 13 junho/2023, p. 53-75.
SARDENBERG, Cecilia. Pedagogias Feministas: uma introdução. In: VANIN, Iole e GONÇALVES, Terezinha (org). Caderno Gênero e Trabalho, São Paulo: REDOR, 2006, p.44-57.
SARDENBERG, Cecilia M. B.; COSTA, Ana Alice Alcantara. Contemporary feminisms in Brazil: achievements, shortcomings, and challenges. IN BASU, Amrita (editor), 2010, p. 255-284.
SARTI, Cynthia Andersen. O feminismo brasileiro desde os anos 1970: revisitando uma trajetória. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 12, n.2, p. 35-50, 2004.
SHREWSBURG, Carolyn. What is feminist pedagogy? Women's Studies Quarterly, v. 15, n. 3/4, 1987, p. 6-14.
SOUZA, Maria Cristina de. A tradição obscura: o teatro feminino no Brasil. Rio de Janeiro: Bacantes, 2001.
TAYLOR, Diana. O arquivo e o repertório. Performance e memória cultural nas Américas. Trad. Eliana Lourenço de Lima Reis. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013.
TELES, Maria Amélia de Almeida. Breve história do feminismo no Brasil e outros ensaios. São Paulo: Editora Alameda, 2017.
TERRA, Bibiana. A carta das mulheres brasileiras aos constituintes: o movimento feminista e a participação das mulheres no processo constituinte de 1985-1988.São Paulo: Editora Dialética, 2022.
VINCENZO, Elza C. de. Um teatro da mulher: dramaturgia feminina no palco brasileiro contemporâneo. São Paulo: Perspectiva, 1992.
Téléchargements
Publiée
Comment citer
Numéro
Rubrique
Licence
Os autores detém os direitos autorais, ao licenciar sua produção na RevistaCientífica/FAP, que está licenciada sob uma licença Creative Commons. Ao enviar o artigo, e mediante o aceite, o autor cede seus direitos autorais para a publicação na referida revista.
Os leitores podem transferir, imprimir e utilizar os artigos publicados na revista, desde que haja sempre menção explícita ao(s) autor (es) e à Revista Científica/FAP não sendo permitida qualquer alteração no trabalho original. Ao submeter um artigo à Revista Científica/FAP e após seu aceite para publicação os autores permitem, sem remuneração, passar os seguintes direitos à Revista: os direitos de primeira edição e a autorização para que a equipe editorial repasse, conforme seu julgamento, esse artigo e seus metadados aos serviços de indexação e referência.