Editorial: Artes Visuais, imaginários de esquerda e capitalismo na América Latina
DOI:
https://doi.org/10.33871/sensorium.2024.11.9821Resumo
Editorial
Artes Visuais, imaginários de esquerda e capitalismo na América Latina
O imaginário revolucionário cumpre um papel importante na relação entre arte e política. Inclusive, foi a violência revolucionária e o laicismo iconoclasta da Revolução Francesa que produziu a noção moderna de arte (Groys, 2021). Na América Latina, a partir da década de 1960, os imaginários atrelados às revoluções francesa e soviética foram atualizados e reformulados desde as experiências históricas coloniais, o triunfo da revolução cubana (1953-1959) e os sucessivos golpes de Estado que estabeleceram governos ditatoriais no Brasil (1964), Bolívia (1964), Argentina (1966 e depois em 1976), Chile (1973) e Uruguai (1973). Para Ana Longoni (2014), vanguarda e revolução funcionaram como “ideias-forças” na arte desse período. A associação entre revolução e vanguarda, sobretudo nos primeiros anos das ditaduras militares do Cone Sul, redefiniu o papel da arte e dos artistas.
O léxico político-ideológico assume o protagonismo nos enunciados, nas produções poéticas de artistas e nas formulações críticas e teóricas do continente, agregando novas camadas de significação para o gesto artístico, agora convertido em ação revolucionária. No Brasil, o ideário ético-político-estético vigente no período se evidenciou em conceituações como “geração tranca-ruas” (Bittencourt, 1970) e “arte de guerrilha” (Morais, 1970), empregadas por críticos e artistas na tentativa de dar unidade e, ao mesmo tempo, distinguir uma vasta e
diversificada produção que foi difundida em mostras como Opinião 65 (1965), Arte no Aterro (1968), Do corpo à Terra (1970) e Domingos de criação (1971).
No entanto, a crença na possibilidade de produzir uma forma artística revolucionária, a partir do paradigma da intervenção da experiência estética na realidade social, subjacente à relação arte e política dentro do espectro socialista, rapidamente encontrou seu limite. A partir daí, diversos artistas entraram em um impasse: como constituir um imaginário político nas artes visuais que não estivesse atrelado a projetos políticos-revolucionários instrumentalizadores do estético, e que também valorizavam o uso da violência, do matar e do morrer, como opção legítima da atividade política?
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- 2024-10-31 (3)
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