Arte e Resistência em Tempos de Pandemia: a série de Quadrinhos Confinada, de Leandro Assis e Triscila Oliveira
DOI:
https://doi.org/10.33871/23580437.2020.7.2.250-276Palavras-chave:
Cultura Visual, Histórias em Quadrinhos, Arte e Resistência, Covid-19, Confinada.Resumo
Nossa proposta, neste artigo, é lançar o olhar sobre a série de narrativas gráficas intitulada Confinada, desenvolvida por Leandro Assis e Triscila Oliveira no curso da pandemia de covid-19 e publicada, periodicamente, no Instagram (@leandro_assis_ilustra). Ambientados na cidade do Rio de Janeiro, os episódios da Confinada retratam o "enfrentamento" da covid a partir da experiência de duas mulheres: de um lado, Ju, uma trabalhadora doméstica que não pode se "dar ao luxo" de cumprir as medidas de confinamento, permanecendo em serviço na casa da patroa; e, de outro, Fran Clemente, uma influencer digital em situação de privilégio (social, econômico, racial, e além) que tira proveito do trabalho doméstico e contribui para subalternizá-lo, mesmo durante a pandemia. Amparam nossas formulações os Estudos da Cultura Visual, que possibilitam a abordagem das histórias em quadrinhos como narrativas visuais, ou seja, como espaços de interação social, construção e negociação de subjetividades, no bojo da fabricação e do compartilhamento de imagens. Assumindo que os processos culturais e artísticos podem contribuir para deslocalizar olhares normatizados sobre as pessoas e suas formas de participação no mundo, confrontamos as visualidades subalternizantes historicamente construídas em torno das mulheres negras e pobres, e brutalmente reproduzidas no curso da pandemia, com as formas habituais de ver mulheres em condições de privilégio na sociedade "” em regra, brancas e com poder aquisitivo suficiente para submeter as primeiras à servidão, como acontece na história de Ju e Fran. Interessa-nos discutir, afinal, como a arte que circula no ambiente digital durante a pandemia pode não apenas "entreter" , mas especialmente constituir e fomentar ações transformadoras e libertárias "” de debate, oposição e resistência. As séries gráficas da Confinada representam uma movimentação neste sentido; são narrativas contra-hegemônicas que retratam as violências interseccionais de gênero, raça e classe imiscuídas nas formas (desiguais) de enfrentamento da pandemia.Downloads
Referências
Referências
ABREU, Carla Luzia de; íLVAREZ, Juan Sebastián Ospina; MONTELES, Nayara Joyse Silva. O que podemos aprender das contravisualidades? Anais do 28º Encontro da Anpap. Cidade de Goiás: Anpap, 2019.
AGUIRRE, I. Cultura Visual, política da estética e educação emancipadora. Trad. Danilo de Assis Clímaco e Inés Oliveira Rodríguez. In: MARTINS, R.; TOURINHO, I. Educação da cultura visual. Conceito e contextos. Santa Maria: Editora da UFSM, 2011.
ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo estrutural. São Paulo: Pólen, 2019.
ARDÈVOL, Elisenda & MUNTAÑOLA, Nora (Orgs.). Representación y cultura audiovisual en la sociedad contemporánea. Barcelona: Editorial UOC, 2014.
BAIRROS, Luiza. Novos feminismos revisitados. Estudos Feministas, n. 2, USP, 1995.
BENTO, Cida [Maria Aparecida]. (2002). Pactos narcísicos no racismo: branquitude e poder nas organizações empresariais e no poder político. (Tese de Doutorado). USP, São Paulo. Disponível em: <https://teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-18062019-181514/publico/bento_do_2002.pdf>. Acesso em: 20.08.2020.
BRUM, Eliane. Bolsonaro manda festejar o crime, 27.03.2020. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2019/03/27/opinion/1553688411_058227.html>. Acesso em 02.08.2020.
________. Brasil, construtor de ruínas: um olhar sobre o país, de Lula a Bolsonaro. Porto Alegre: Arquipélago Editorial, 2019.
BUTLER, Judith. Cuerpos que importan: sobre los límites materiales y discursivos del "sexo". Buenos Aires: Paidós, 2002.
________. Os atos performativos e a constituição do gênero: um ensaio sobre fenomenologia e teoria feminista. Trad. Jamille Pinheiro Dias. Caderno de leituras, n. 78, Edições Chão da Feira, jun. 2018.
________. Vida precaria: el poder del duelo y la violencia. Buenos Aires: Paidós, 2006.
CARNEIRO, Sueli. Enegrecer o feminismo: a situação da mulher negra na América Latina a partir de uma perspectiva de gênero. In: ASHOKA EMPREENDEDORES SOCIAIS; TAKANO CIDADANIA (Orgs.). Racismos contemporâneos. Rio de Janeiro: Takano Editora, 2003. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/enegrecer-o-feminismo-situacao-da-mulher-negra-na-america-latina-partir-de-uma-perspectiva-de-genero>. Acesso em: 26.07.2020.
COLLINS, Patricia Hill. (2019) Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento. Trad. Jamille Pinheiro. São Paulo: Boitempo, 2019 [1990].
COULDRY, N. et al. Inequality and Communicative Struggles in Digital Times: A Global Report on Communication for Social Progress. CARGC Strategic Documents, 2018.
FRANKENBERG, Ruth. Introduction: Local Whiteness, Localizing Whiteness. In: Displacing Whiteness: Essays in Social and Cultural Criticism. Durham, London: Duke University Press, 1999.
________. Mirage of Unmarked Whiteness. In: RASMUSSEN, B. B. et al. (Orgs.). The Making and Unmaking of Whiteness. Durham, London: Duke University Press, 2001.
GOES, Emanuelle Freitas; RAMOS, Dandara de Oliveira; FERREIRA, Andrea Jacqueline Fortes. Desigualdades raciais em saúde e a pandemia da Covid-19: notas de conjuntura. Trabalho, Educação e Saúde, 2020. Disponível em: <http://www.tes.epsjv.fiocruz.br>. Acesso em: 30.07.2020.
hooks, bell. Teoria feminista: da margem ao centro. Trad. Rainer Patriota. São Paulo: Perspectiva, 2019.
LE GOFF, Jacques. Raízes medievais da Europa. Petrópolis: Vozes, 2011.
LISBOA, Aline; MORAIS, Osvando José de. Proposições da artemídia em poéticas digitais nas obras de Lucas Bambozzi e Diana Domingues. Art&Sensorium, Curitiba, v. 6, n. 1, jun. 2019. Disponível em: <http://periodicos.unespar.edu.br/index.php/sensorium/article/view/2646>. Acesso em: 26.06.2020.
MANSELL, R. Imaginaries of the digital: ambiguity, power and the question of agency. Communiquer "” Revue de Communication Sociale et Publique, n. 20, 2017, p. 40-48. Disponível em: <http://eprints.lse.ac.uk/86463>. Acesso em: 22.07.2020.
________. Power, media culture and new media. Conference Media Culture in Change, University of Bremen, 2009. Disponível em: <http://eprints.lse.ac.uk/24991>. Acesso em: 22.07.2020.
MARTINS, Alice Fátima. Arena aberta de combates, também alcunhada de cultura visual. In: MARTINS, R.; TOURINHO, I. (Orgs.). Culturas das imagens: desafios para a arte e para a educação. Santa Maria: Editora UFSM, 2012.
________. Exercícios para uma poética da solidariedade. Revista Apotheke, v. 4, n. 2, 2018. Disponível em: <https://www.revistas.udesc.br/index.php/apotheke/article/view/13558/8620>. Acesso em: 19.09.2020.
MIELES, V. D. P. Ciudadanía Digital: una oportunidad de formación e innovación. Anais do X Congreso Internacional Latina de Comunicación Social, Universidad de La Laguna, dez. 2018. Disponível em: <http://www.revistalatinacs.org/18SLCS/libro-colectivo-2018.html>. Acesso em: 22.07.2020.
MIRZOEFF, Nicholas. The Right to Look. Critical Inquiry, v. 37, n. 3, 2011, p. 473-496. Disponível em: <https://www.jstor.org/stable/10.1086/659354>. Acesso em: 13.09.2020.
NESPOLI, Eduardo. Arte híbrida, computação e espaço: da zero-dimensionalidade í multidimensionalidade. Art&Sensorium, Curitiba, v. 6, n. 1, jun. 2019. Disponível em: <http://periodicos.unespar.edu.br/index.php/sensorium/article/view/2661>. Acesso em: 26.06.2020.
ODARA, Thiffany. Racismo que fala, né? As interfaces da pandemia. Notícia Preta, 09.06.2020. Disponível em: <https://noticiapreta.com.br/racismo-que-fala-ne-as-interfaces-da-pandemia>. Acesso em: 26.07.2020.
PELA VIDA DE NOSSAS MíES. Carta-manifesto, 2020. Disponível em: <https://cutt.ly/Ff3pH8W>. Acesso em: 22.08.2020.
PRADA, Juan Martín. El nuevo régimen de la visualidad. In: GÓMEZ ISLA, J. Cuestión de imagen: aproximaciones al universo audiovisual desde la comunicación, el arte y la ciencia. Salamanca: Ediciones Universidad de Salamanca, 2013.
PRETA-RARA. Eu, empregada doméstica: a senzala moderna é o quartinho da empregada. Belo Horizonte: Letramento, 2019.
RIBEIRO, Djamila. Caso do menino Miguel Otávio é a síntese das relações desse país. Folha de S. Paulo, 09.07.2020. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/colunas/djamila-ribeiro/2020/07/caso-do-menino-miguel-otavio-e-a-sintese-das-relacoes-desse-pais.shtml>. Acesso em: 26.07.2020.
________. O que é lugar de fala. Coleção Feminismos Plurais. Belo Horizonte: Letramento, 2017.
________. Pequeno manual antirracista. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
________. Quem tem medo do feminismo negro? São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
RODAL, Asunción Bernárdez; CASTILLO, Graciela Padilla; SANCHÉZ, Roxana Popelka Sosa. From Action Art to Artivism on Instagram: Relocation and instantaneity for a new geography of protest. Catalan Journal of Communication & Cultural Studies, v. 11, n. 1, p. 23-37.
SERAFINELLI, E. Analysis of photo sharing and visual social relationships: Instagram as a case study. Photographies, vol. 10, n. 1, 2017, p. 91-111. Disponível em: <https://doi.org/10.1080/17540763.2016.1258657>. Acesso em 12.07.2020.
SHELDON, P & BRYANT, K. Instagram: Motives for its use and relationship to narcissism and contextual age. Computers in Human Behavior, n. 58, 2016, p. 89-97.
SILVA, Ana Cecília. Quadrinhos, política e desigualdade social: uma entrevista com Leandro Assis e Triscila Oliveira. Arribação "” Jornalismo Cultural & Outros Deslocamentos, 27 jul. 2020. Disponível em: <https://arribacao.com.br/2020/07/27/quadrinhos-politica-e-desigualdade-social-uma-entrevista-com-leandro-assis-e-triscila-oliveira>. Acesso em: 20.08.2020.
SUESS, A. Instagram and art gallery visitors: Aesthetic experience, space, sharing and implications for educators. Art Education Australia, vol. 39, n. 1, 2018, p. 107-122. Disponível em: <https://www.arteducation.org.au/current-and-previous-editionsmember-downloads>. Acesso em: 10.07.2020.
TORRES, D. R. Transições e expansões da arte no meio digital: reinterpretações além do tempo do artista. Art&Sensorium, Curitiba, v. 7, n. 1, p. 44-57, jan.-jun. 2020. Disponível em: <http://periodicos.unespar.edu.br/index.php/sensorium/article/view/3349/pdf_3>. Acesso em: 26.06.2020.
VALENZUELA, Sebástian. Analisando o uso de redes sociais para o comportamento de protesto: o papel da informação, da expressão de opiniões. Revista ComPolítica, n. 4, 2014.
VERGÈS, Françoise. Um feminismo decolonial. Trad. Jamille Pinheiro Dias e Raquel Camargo. São Paulo: Ubu Editora, 2020.
VIVAR, J. M. F. Nuevos modelos de comunicación, perfiles y tendencias en las redes sociales. Comunicar, v. 17, n. 33, 2009, p. 73-81.
VRANA, V. G. et al. Top museums on Instagram: A network analysis. International Journal of Computational Methods in Heritage Science, vol. 3, n. 2, 2019, p. 18-42. Disponível em: <https://doi.org/10.4018/IJCMHS.2019070102>. Acesso em 10.07.2020.
WEILENMANN, A. et al. Instagram at the museum: Communicating the museum experience through social photo sharing [Paper presentation]. SIGCHI Conference on human factors in computing systems, Paris, France, Apr. 2013. Disponível em: <https://dl.acm.org/doi/10.1145/2470654.2466243>.
WILLIAMS, H. Art for Instagram. Is social media ruining art? Independent, 14 Jul. 2016. Disponível em: <https://www.independent.co.uk/arts-entertainment/art/features/artfor-instagram-is-social-media-ruining-art-a7136406.html>. Acesso em: 10.07.2020.
YASBEK, Maria Carmelita; RAICHELIS, Raquel; SANT"™ANA, Raquel. Questão social, trabalho e crise em tempos de pandemia. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. 138, mai.-ago. 2020.
Episódios da Confinada postados no Instagram até 30.09.2020:
Episódio n. 1, "Good vibes" (11.04.2020): <https://www.instagram.com/p/CFO6ojDpCXm>.
Episódio n. 2, "Tirando de letra" (16.04.2020): <https://www.instagram.com/p/B_C7j_4Jz8X>.
Episódio n. 3, "Get shit done" (21.04.2020): <https://www.instagram.com/p/B_QJYwZJ_pm>.
Episódio n. 4, "As ingratas" (25.04.2020): <https://www.instagram.com/p/B_ZtNfYp9nh>.
Episódio n. 5, "Leão enjaulado" (29.04.2020): <https://www.instagram.com/p/B_j_zpWpd2G>.
Episódio n. 6, "Hashtag #forzaitalia" (07.05.2020): <https://www.instagram.com/p/B_5T2sYprqu>.
Episódio n. 7, "Costureira" (14.05.2020): <https://www.instagram.com/p/CAKsgE2Jlmh>.
Episódio n. 8, "Wakanda" (21.05.2020): <https://www.instagram.com/p/CAcqgKdps-2>.
Episódio n. 9, "Felicidade" (28.05.2020): <https://www.instagram.com/p/CAuzzIEppQT>.
Episódio n. 10, "Amor í vida" (05.06.2020): <https://www.instagram.com/p/CBDOwq_JW0i>.
Episódio n. 11, "Eles não ligam para nós" (12.06.2020): <https://www.instagram.com/p/CBWEuI0pRnw>.
Episódio n. 12, "EAD" (22.06.2020): <https://www.instagram.com/p/CBwa3OQpCQP>.
Episódio n. 13, "Amigas" (27.06.2020): <https://www.instagram.com/p/CB8GojTpN_y>.
Episódio n. 14, "Costelinha" (01.07.2020): <https://www.instagram.com/p/CCHvCzeJYy6>.
Episódio n. 15, "Herança" (10.07.2020): <https://www.instagram.com/p/CCevU-gJSlx>.
Episódio n. 16, "Gratiluz" (17.07.2020): <https://www.instagram.com/p/CCvt990pM8C>.
Episódio n. 17, "Eles" (21.07.2020): <https://www.instagram.com/p/CC5q9szJX3U>.
Episódio n. 18, "Elas" (29.07.2020): <https://www.instagram.com/p/CDOOPOJpnLi>.
Episódio n. 19, "Concurso" (12.08.2020): <https://www.instagram.com/p/CDyR-O0JJOV>.
Episódio n. 20, "Família" (14.08.2020): <https://www.instagram.com/p/CD47hHjJgjT>.
Episódio n. 21, "Paraíba" (19.08.2020): <https://www.instagram.com/p/CEEbWNUpOGu>.
Episódio n. 22, "A festa – parte 1" (27.08.2020): <https://www.instagram.com/p/CEZH20aJq69>.
Episódio n. 23, "A festa – parte 2" (03.09.2020): <https://www.instagram.com/p/CEsdgeJJY93>.
Episódio n. 24, "Ressaca" (09.2020): <https://www.instagram.com/p/CE9GUpDpS7o>.
Episódio n. 25, "Família" (17.09.2020): <https://www.instagram.com/p/CFO6ojDpCXm>.
Episódio n. 26, "Positivo" (25.09.2020): <https://www.instagram.com/p/CFjsgoGJ03H>.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Revista Interdisciplinar Internacional de Artes Visuais - Art&Sensorium
Esta obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Attribution 3.0 Unported License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).