O crysTao_timE_worKs

PSICODELIA CLÍNICA E IMAGÉTICA CINEMATOGRÁFICA EM DELEUZE

Autores

DOI:

https://doi.org/10.33871/sensorium.2025.12.10731

Palavras-chave:

psicodelia, cristais de tempo, neurociência, cinema, Deleuze

Resumo

Historicamente marginalizados pela medicina e pela psicologia, os estados não ordinários de consciência (ENOC) vêm sendo revalorizados no chamado “renascimento psicodélico”, que os considera modos legítimos de experiência e de produção de sentido. Nesse contexto, a imagética psicodélica é compreendida como um acontecimento sensível, expressão singular da subjetividade em transformação, que exige formas abertas de escuta e expressão. O conceito de cristal de tempo, associado à ideia de uma ontologia da vibração, propõe uma realidade não estática, mas rítmica e processual, em que o ser se dá como fluxo e oscilação. Tal como os cristais de tempo desafiam a estabilidade newtoniana, os psicodélicos rompem com a rigidez da conectividade cerebral, abrindo espaço para reconfigurações do self e da experiência temporal. O cinema, por sua vez, surge como tecnologia privilegiada para pensar as relações entre movimento e tempo. A imagem cinematográfica, especialmente a imagem-cristal de Deleuze, não representa o real, mas o faz vibrar em sua multiplicidade temporal. Há, portanto, uma convergência entre cinema e psicodelia: ambos operam como máquinas de tempo, desorganizando a percepção ordinária e expondo o sujeito a uma experiência intensiva e desterritorializante. Assim, a imagem psicodélica apresenta-se como expressão ontológica da diferença para uma escuta filosófica atenta à sua potência transmutadora. Este artigo propõe uma reflexão interdisciplinar sobre as dimensões da imagem mental na psicodelia clínica, articulando neurociência, filosofia contemporânea e cinema.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Alessandro Gonçalves Campolina, Universidade de São Paulo

Universidade de São Paulo (USP). Doutor e Pós-doutor pela USP. Participou de diversos treinamentos em Medicina Mente-Corpo no Brasil e no exterior; possui certificação internacional em Terapia Psicodélica pelo California Institute of Integral Studies (CIIS, EUA) e pela Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies (MAPS, EUA). Atualmente é médico, pesquisador e professor no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) / Faculdade de Medicina da USP; coordenador pedagógico do Instituto Aion e coordenador de pesquisa do LIS (Lar Integração do Ser).  São Paulo, São Paulo, Brasil.

Thiago Batista da Silva, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Bacharel em Cinema e Audiovisual pela UESB. É poeta, letrista, cineasta, mestrando e pesquisador nas áreas de filosofia e cinema. Cineasta atuante desde 2009, colaborou na série Sertão de Dentro (2016) e no longa Sertânia (2018). Codirigiu, com Fabiana Leite, o filme-ensaio Dois Sertões (2023), premiado no Panorama Internacional Coisa de Cinema. Foi curador do Festival Internacional do Filme Insurgente, CINECIPÓ – BH, e teve trabalhos exibidos em eventos como o Cannes Court Métrage, Festival do Rio e Mostra Internacional de São Paulo. Desde 2015, de maneira esporádica, oferece cursos, aulas e palestras sobre cinema e filosofia.

Referências

Winkelman, MJ. The Evolved Psychology of Psychedelic Set and Setting: Inferences Regarding the Roles of Shamanism and Entheogenic Ecopsychology. Front. Pharmacol, 12: 619890, 2021.

Nutt D, Carhart-Harris R. The current status of psychedelics in psychiatry. JAMA Psychiatry, vol. 78, n. 2, pp. 121–2, 2021.

Hartogsohn I. Modalities of the psychedelic experience: Microclimates of set and setting in hallucinogen research and culture. Transcult Psychiatry, vol. 59, n. 5, pp. 579-91, 2022.

Shanon, B. The antipodes of the mind: Charting the phenomenology of the ayahuasca experience. New York: Oxford University Press, 2002.

Deleuze, G. Diferença e Repetição. 2ª ed. Rio de Janeiro: Gaal, 2006.

Koyré, A. Do mundo fechado ao universo infinito. Rio de Janeiro: Forense-Universitária; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1979.

Frank Wilczek. Quantum Time Crystals. Phys. Rev. Lett, 109: 160401, 2012.

Whitehead, A. N. Process and Reality (Gifford Lectures Delivered in the University of Edinburgh During the Session 1927-28). Nova York: Free Press, 1979.

Simondon G. A individuação à luz das noções de forma e de informação. 1ª ed. São Paulo: Editora 34, 2020.

Vijay Kumar Sharma and M. K. Chandrashekaran. Zeitgebers (time cues) for biological clocks. Current Science, vol. 89, n. 7, pp. 1136-46, 2005.

von Uexküll, J. Dos animais e dos homens. Lisboa: Livros do Brasil,1982.

Gattuso JJ, Perkins D, Ruffell S, Lawrence AJ, Hoyer D, Jacobson LH, Timmermann C, Castle D, Rossell SL, Downey LA, Pagni BA, Galvão-Coelho NL, Nutt D, Sarris J. Default Mode Network Modulation by Psychedelics: A Systematic Review. Int J Neuropsychopharmacol, vol. 26, n.3, pp.155-88, 2023.

Carhart-Harris RL, Friston KJ. REBUS and the Anarchic Brain: Toward a Unified Model of the Brain Action of Psychedelics. Pharmacol Rev, Jul; vol. 71, n. 3, pp. 316-44, 2019.

Carhart-Harris RL, Leech R, Williams TM, Erritzoe D, Abbasi N, Bargiotas T, et al. Implications for psychedelic-assisted psychotherapy: functional magnetic resonance imaging study with psilocybin. British Journal of Psychiatry, vol. 200, n. 3, pp. 238–44, 2012.

Grof, S. My ketamine journeys, or ketamine and the enchantment of other worlds. In: Wolfson, P; Hartelius, G (Org.). The Ketamine Papers: Science, Therapy, and Transformation. Santa Cruz (USA): MAPS, 2016. pp.39-39.

Krippner, S. Remembering Salvador Roquet. In: Wolfson, P; Hartelius, G (Org.). The Ketamine Papers: Science, Therapy, and Transformation. Santa Cruz (USA): MAPS, 2016. pp.57-68.

Deleuze, G. Cinema 1: a imagem-movimento. São Paulo: Brasiliense, 1990.

Deleuze, G. Cinema 2: a imagem-tempo. São Paulo: Brasiliense, 2005.

Downloads

Publicado

2025-05-19 — Atualizado em 2025-06-02

Versões

Edição

Seção

Dossiê: Inconsciente e contracultura: dissidências artísticas alternativas