AYAHUASCA E O INEFÁVEL

NEUROCIÊNCIA, ARTE VISIONÁRIA, INCONSCIENTE E ESPIRITUALIDADE AMERÍNDIA

Autores

  • Francisco Prosdocimi Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) https://orcid.org/0000-0002-6761-3069
  • María Carolina Pacini Laboratório de Ciência, Arte e Educação

DOI:

https://doi.org/10.33871/sensorium.2025.12.10422

Resumo

A experiência com a ayahuasca e estados não ordinários de consciência envolve visões simbólicas, acesso ao inconsciente e uma percepção alterada da realidade. Sua natureza metafísica desafia as categorias convencionais de linguagem e representação, sendo frequentemente descrita como inefável. Embora a arte, em qualquer contexto, possua um grau de inefabilidade, a arte visionária que busca expressar essas vivências enfrenta desafios ainda maiores, pois tenta traduzir conteúdos dinâmicos e subjetivos que escapam às estruturas simbólicas tradicionais. Participantes de rituais com ayahuasca relatam visões de geometrias sagradas, unidade cósmica, amor incondicional e encontros com entidades divinas ou aspectos sombrios da psiquê. Nenhuma dessas percepções pode ser representada fielmente devido a limitações cognitivas, conceituais e técnicas. Artistas importantes como Pablo Amaringo e Alex Grey tentaram captar os aspectos pictóricos dessas experiências, desenvolvendo uma linguagem visual que dialoga com os mistérios do inconsciente e do divino. A psiquiatra Nise da Silveira, em paralelo, demonstrou como a arte pode servir como ferramenta terapêutica para acessar conteúdos profundos da psiquê, algo que ressoa no pensamento junguiano e no trabalho de pesquisadores como Stanislav Grof e Terence McKenna. A relação entre arte visionária, inconsciente e contracultura sugere que essas representações funcionam como pontes entre a subjetividade humana e estados ampliados de consciência. Tecnologias emergentes, como realidade virtual e inteligência artificial, são abordadas como possíveis meios para aprofundar a compreensão dessas experiências e difundir seu acesso à população, embora também enfrentem limitações na captação de sua complexidade e esplendor. Apesar dos esforços contínuos de grandes artistas e cientistas da contemporaneidade, a experiência com a ayahuasca continua a desafiar os limites da linguagem e da cognição humana, consolidando-se como uma biotecnologia ancestral ameríndia de grande relevância médica, espiritual, estética e filosófica.

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Biografia do Autor

María Carolina Pacini, Laboratório de Ciência, Arte e Educação

Artista plástica, mestre ceramista e pesquisadora colaboradora do Laboratório de Ciência, Arte e Educação da UFRJ. Nascida na Argentina, Carolina Pacini estudou Psicologia na UBA (Universidad de Buenos Aires) e Artes Visuais pelo IUNA (Instituto Universitário Nacional del Arte), onde especializou-se em pintura. Atua como artista plástica e mestre ceramista, com uma pesquisa focada nas cores suas representações. Seu trabalho explora as nuances de percepção e a maneira como a cor é vivida sensorialmente, incluindo experiências com pessoas cegas. Seu trabalho em cerâmica inclui a criação de obras táteis, como painéis instalados em espaços públicos. Além de sua produção artística, Carolina desenvolve tintas cerâmicas específicas para diferentes técnicas e tem vasta experiência em pintura em porcelana, acrílico, óleo e aquarela. Participou de exposições importantes, das quais se destacam a Bienal de Cerâmica de São Paulo (2017) e Museu Casa Benjamin Constant (2024). Ministrou mais de 100 cursos e workshops no Brasil e no exterior, compartilhando suas técnicas e conhecimentos artísticos.

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Publicado

2025-04-09

Edição

Seção

Dossiê: Inconsciente e contracultura: dissidências artísticas alternativas