Direitos e fé nas trajetórias de Benedita da Silva e Mônica Francisco: mulheres negras faveladas evangélicas e ideologia (anti)gênero
DOI:
https://doi.org/10.33871/nupem.2022.14.33.136-154Palavras-chave:
Mulheres negras evangélicas, Política, Ideologia antigênero, RacismoResumo
A mobilização política da identidade evangélica tem sido associada ao conservadorismo e, especialmente, à ideologia antigênero. Como a maioria da população evangélica é composta por mulheres negras e periféricas, neste artigo investigamos se o pertencimento religioso determina seus posicionamentos e atuações políticas, a partir das trajetórias das parlamentares Benedita da Silva e Mônica Francisco, especificamente quanto a duas pautas daquela ideologia: ataques a direitos de pessoas LGBTI e ao direito ao aborto. Conduzimos uma pesquisa bibliográfica e documental e concluímos que elas não promovem a ideologia antigênero. Ademais, seu pertencimento religioso compõe arranjos e repertórios junto a outros pertencimentos identitários e coletivos (movimentos) – mulheres, negras, faveladas – que informam seu lugar no mundo e seus compromissos políticos. Apontamos o racismo na homogeneização de pessoas negras e sugerimos abertura científica para o reconhecimento de diferentes formas de agência por mulheres negras evangélicas.
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