Direitos e fé nas trajetórias de Benedita da Silva e Mônica Francisco: mulheres negras faveladas evangélicas e ideologia (anti)gênero

Autores

DOI:

https://doi.org/10.33871/nupem.2022.14.33.136-154

Palavras-chave:

Mulheres negras evangélicas, Política, Ideologia antigênero, Racismo

Resumo

A mobilização política da identidade evangélica tem sido associada ao conservadorismo e, especialmente, à ideologia antigênero. Como a maioria da população evangélica é composta por mulheres negras e periféricas, neste artigo investigamos se o pertencimento religioso determina seus posicionamentos e atuações políticas, a partir das trajetórias das parlamentares Benedita da Silva e Mônica Francisco, especificamente quanto a duas pautas daquela ideologia: ataques a direitos de pessoas LGBTI e ao direito ao aborto. Conduzimos uma pesquisa bibliográfica e documental e concluímos que elas não promovem a ideologia antigênero. Ademais, seu pertencimento religioso compõe arranjos e repertórios junto a outros pertencimentos identitários e coletivos (movimentos) – mulheres, negras, faveladas – que informam seu lugar no mundo e seus compromissos políticos. Apontamos o racismo na homogeneização de pessoas negras e sugerimos abertura científica para o reconhecimento de diferentes formas de agência por mulheres negras evangélicas.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Fontes

BRASIL. Atas das reuniões da subcomissão dos negros, população indígena, pessoas deficientes e minorias. Câmara dos Deputados. 1987a. Disponível em: https://bit.ly/3v9ow7r. Acesso em: 22 jul. 2022.

BRASIL. Benedita, a dúvida sobre o aborto. Senado Federal. 1987b. Disponível em: https://bit.ly/3BQEHKU. Acesso em: 09 ago. 2022.

BRASIL. Biografia Benedita da Silva. Câmara dos Deputados. [s.I.]. Disponível em: https://bit.ly/3QPPhGq. Acesso em: 14 ago. 2022.

BRASIL. Proposta de Emenda à Constituição n. 478 de 2010. Revoga o parágrafo único do art. 7º da Constituição Federal, para estabelecer a igualdade de direitos trabalhistas entre os empregados domésticos e os demais trabalhadores urbanos e rurais. Câmara dos Deputados. 14 abr. 2010. Disponível em: https://bit.ly/3vRALpc. Acesso em: 09 ago. 2022.

BRASIL. Discurso da Deputada Benedita da Silva: Sessão 056.1.54.O. Câmara dos Deputados. 04 abr. 2011. Disponível em: https://bit.ly/3BTO1gV. Acesso em: 09 ago. 2022.

BRASIL. Requerimento de Informações: Requeremos informações do Ministro da Saúde sobre termos de cooperação e convênios destinados a estudos e pesquisas sobre a descriminalização do aborto no Brasil. Câmara dos Deputados. 2012. Disponível em: https://bit.ly/3JJmFMn. Acesso em: 09 ago. 2022.

BRASIL. Discurso da Deputada Benedita da Silva: Sessão 066.3.55.0. Câmara dos Deputados. 06 abr. 2017a. Disponível em: https://bit.ly/3AbgNbV. Acesso em: 09 ago. 2022.

BRASIL. Projeto de Lei n. 8.363 de 2017. Dispõe sobre o exercício profissional da atividade de Doula e dá outras providências. Câmara dos Deputados, 2017b. Disponível em: https://bit.ly/3B5zApQ. Acesso em: 22 jul. 2022.

BRASIL. Comissão de Direitos Humanos e Minorias: cinquenta anos depois daquela noite no bar Stonewall. Câmara dos Vereadores. 2019a. Disponível em: https://bit.ly/3OslS3l. Acesso em: 22 jul. 2022.

BRASIL. Discurso da Deputada Benedita da Silva: Sessão 17.2020.B. Câmara dos Deputados. 18 ago. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3zHJFHb. Acesso em: 09 ago. 2022.

FRANCISCO, Mônica. Fé na luta, fé na vida. Mônica Francisco Deputada Estadual. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3AcpLFS. Acesso em: 09 ago. 2022.

FRANCISCO, Mônica. Por que a Mônica defende a legalização do aborto. Facebook. 02 out. 2018. Disponível em: https://bit.ly/3ApJEZV. Acesso em: 30 jun. 2021.

FRANCISCO, Mônica. Monicafrancisco. 2021. Instagram. Disponível em: https://bit.ly/3vSr0Hw. Acesso em: 22 jun. 2022.

FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO. História Oral – PT 40 anos. Fundação Perseu Abramo. 17 out. 2019. Disponível em: https://bit.ly/3dklRld. Acesso em: 09 ago. 2022.

RIO DE JANEIRO. Deputado Mônica Francisco: Biografia. Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. [s.I.]. Disponível em: https://bit.ly/3SAPoHo. Acesso em: 09 ago. 2022.

RIO DE JANEIRO. Sessão – Extraordinária. Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. 25 jun. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3A6e8A1. Acesso em: 09 ago. 2022.

SILVA, Benedita da. Instadabene. Instagram. 2021. Disponível em: https://bit.ly/3BWyHjW. Acesso em: 21 jun. 2021.

Referências

AGÊNCIA NOVOS DIÁLOGOS. Manifesto 2020 – Rede de Mulheres Negras Evangélicas do Brasil. Portal Geledés. 25 jun. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3bMi5jV. Acesso em: 09 ago. 2022.

ALVES, José Eustáquio; CAVENAGHI, Suzana; BARROS, Luiz Felipe; CARVALHO, Angelita. Distribuição espacial da transição religiosa no Brasil. Tempo social, v. 29, n. 2, p. 215-242, maio/ago. 2017.

ANTUNES, Leda. Mônica Francisco, eleita no Rio: Minha eleição é consequência de uma trajetória. Portal Geledés. 22 out. 2018. Disponível em: https://bit.ly/3A6fyKR. Acesso em: 09 ago. 2022.

ASSIS, Carolina de. Novos nomes: “É impossível um projeto de sociedade que em 2018 ainda seja feito por homens brancos”, diz Mônica Francisco. Gênero e Número. 06 set. 2018. Disponível em: https://bit.ly/3bSOTbm. Acesso em: 14 ago. 2022.

BAIRROS, Luiza. Orfeu e poder: uma perspectiva afro-americana sobre a política racial no Brasil. Afro-Ásia, n. 17, p. 173-186, jan. 1996.

BALLOUSSIER, Anna Virginia. Cara típica do evangélico brasileiro é feminina e negra, aponta Datafolha. Folha de São Paulo. 13 jan. 2020. Disponível em: http://bit.ly/38ZZ3jd. Acesso em: 09 ago. 2022.

BAUMAN, Zygmunt. Em busca da política. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 2000.

BARBOZA, Vanessa Maria Gomes; SOUZA, Ana Paula Abrahamian de. Mulheres negras evangélicas e o processo de autoformação. Interritórios, v. 6, n. 10, p. 131-154, 2020.

BOITEUX, Luciana; FRANCISCO, Mônica. E se fosse sua filha? Tentativa de impedir aborto legal de menina é retrato de como são tratados direitos das mulheres. O Globo. 18 out. 2020. Disponível em: http://glo.bo/3BTUU1L. Acesso em: 09 ago. 2022.

BRUM, Mario Sergio Ignácio. Cidade Alta: história, memórias e o estigma de favela num conjunto habitacional do Rio de Janeiro. 361f. Doutorado em História pela Universidade Federal Fluminense. Rio de Janeiro, 2011.

BURITY, Joanildo. Religião, cultura e espaço público: onde estamos na presente conjuntura? In: MEZZOMO; Frank Antonio; PÁTARO, Cristina Satiê de Oliveira; HANH, Fábio André (Orgs.). Religião, cultura e espaço público. São Paulo; Campo Mourão: Olho D’Água; Fecilcam, 2016, p. 13-50.

BUTLER, Judith. Ideologia anti-gênero e a crítica da era secular de Saba Mahmood. Debates do NER, v. 2, n. 36, p. 219-235, 2019.

COLLINS, Patricia Hill. Pensamento feminista negro. São Paulo: Boitempo, 2019.

COSTA, Andrea Lopes. Prefácio: gerações em diálogos, mulheres negras em resistência. In: LOURENÇO, Ana Carolina; FRANCO, Anielle (Orgs.). A radical imaginação política das mulheres negras brasileiras. São Paulo: Oralituras; Fundação Rosa Luxemburgo, 2021, p. 10-18.

CUNHA, Christina Vital da; LOPES, Paulo Victor Leite; LUI, Janayna. Religião e política: medos sociais, extremismo religioso e as eleições 2014. Rio de Janeiro: Fundação Heinrich Böll, 2017.

D’ANDREA, Tiarajú Pablo. A formação dos sujeitos periféricos: cultura e política na periferia de São Paulo. 295f. Doutorado em Sociologia pela Universidade de São Paulo. São Paulo, 2013.

DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016.

DAVIS, Angela. CULTNE – Angela Davis no CAHL – Centro de Artes, Humanidades e Letras – Cachoeira – Bahia. Youtube. 17 jul. 2017. Disponível em: https://bit.ly/3dllA1l. Acesso em: 09 ago. 2022.

DUARTE, Aimée Schneider. Apresentação: a redemocratização brasileira e o seu processo Constituinte. Revista Cantareira, n. 27, p. 1-4, 2017.

EFREM, Roberto. “Os evangélicos” como nossos “outros”: sobre religião, direitos e democracia. Religião & Sociedade, v. 39, n. 3, p. 124-151, 2020.

FANON, Franz. Pele negra máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008.

FRANCO, Marielle. A emergência da vida para superar o anestesiamento social frente à retirada de direitos: o momento pós-golpe pelo olhar de uma feminista, negra e favelada. In: BUENO, Winnie; BURIGO, Joanna; MACHADO, Rosana Pinheiro (Orgs.). Tem saída? Ensaios críticos sobre o Brasil. Porto Alegre: Editora Zouk, 2017, p. 89-95.

FRESTON, Paul. Protestantismo e política no Brasil: da Constituinte ao impeachment. 303f. Doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 1993.

GONZALEZ, Lélia. A mulher negra. In: RIOS, Flávia; LIMA, Márcia (Orgs.). Por um feminismo latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar, 2020a, p. 94-111.

GONZALEZ, Lélia. Discurso na Constituinte. In: RIOS, Flávia; LIMA, Márcia (Orgs.). Por um feminismo latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar, 2020b, p. 244-262.

GONZALEZ, Lélia. Mulher negra: um retrato. In: RIOS, Flávia; LIMA, Márcia (Orgs.). Por um feminismo latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar, 2020c, p. 173-178.

HABERMAS, Jurgen. Tra scienza e fede. Bari: Laterza, 2006.

INSTITUTO MARIELLE. Agenda Marielle Franco. Instituto Marielle Franco. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3dme32p. Acesso em: 09 ago. 2022.

KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.

KUHAR, Roman; PATERNOTTE, David. “Gender ideology” in movement: Introduction. In: KUHAR, Roman; PATERNOTTE, David (Eds.). Anti-gender campaigns in Europe: Mobilizing against equality. Londres: Rowman & Littlefield, 2017, p. 1-22.

LACERDA, Fábio. Pentecostalismo, eleições e representação política no Brasil contemporâneo. 144f. Doutorado em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. São Paulo, 2017.

MAHMOOD, Saba. The politics of piety: the Islamic revival and the feminist subject. Princeton: Princeton University Press, 2005.

MARINI, Luisa; CARVALHO, Ana Luiza de. Renovada, bancada evangélica chega com mais força no próximo Congresso. Congresso em Foco. 17 out. 2018. Disponível em: http://bit.ly/380nmwJ. Acesso em: 17 abr. 2022.

OLIVEIRA, Acauam Silverio de. O fim da canção? Racionais MC's como efeito colateral do sistema cancional brasileiro. 412f. Doutorado em Letras Clássicas e Vernáculas pela Universidade de São Paulo. São Paulo, 2015.

PEREZ, Gloria (Coord.). Sexualidad, religión y democracia en America-latina. Cidade do México: Fundación Arcoíris por el Respeto a la Diversidad Sexual, 2019.

PIERUCCI, Antônio Flavio. Representantes de Deus em Brasília: a bancada evangélica na Constituinte. Ciências Sociais Hoje, n. 11, p. 104-132, 1989.

PIZA, Edith. Porta de vidro: entrada para a branquitude. In: CARONE, Iray; BENTO, Maria Aparecida Silva (Orgs.). Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2016, p. 59-77.

QUEIROZ, Cristiane. Estratégia corporativa: presença evangélica no Legislativo triplica de tamanho a partir do patrocínio de grandes igrejas. Revista Pesquisa FAPESP. 2019a. Disponível em: https://bit.ly/3PhwylI. Acesso em: 09 ago. 2022.

QUEIROZ, Cristiane. Fé pública. Pesquisadores locais e estrangeiros buscam compreender o crescimento evangélico no Brasil. Revista Pesquisa FAPESP. 2019b. Disponível em: https://bit.ly/3JGsTgf. Acesso em: 09 ago. 2022.

RIOS, Flávia; MACHADO, Carlos. Qual o efeito Marielle para a política brasileira? Nexo Jornal. 13 mar. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3p5dPPE. Acesso em: 09 ago. 2022.

RODRIGUES, Cristiano; FREITAS, Viviane Gonçalves. Ativismo Feminista Negro no Brasil: do movimento de mulheres negras ao feminismo interseccional. Revista Brasileira de Ciência Política, n. 34, p. 1-54, 2021.

SALES, Lilian; MARIANO, Ricardo. Ativismo político de grupos religiosos e luta por direitos. Religião & Sociedade, v. 39, n. 2, p. 9-27, 2019.

SANTOS, João Vitor. Base social dos pentecostais conta com uma presença grande de mulheres e negros. Entrevista especial com Maria das Dores Campos Machado e Christina Vital. Os evangélicos continuam crescendo a cada censo. Instituto Humanitas Unisinos. 05 mar. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3QfhdUa. Acesso em: 09 ago. 2022.

SANTOS, Natália Neris da Silva. A voz e a palavra do Movimento Negro na Assembleia Nacional Constituinte (1987/1988): um estudo das demandas por direitos. 205f. Mestrado em Direito pela Fundação Getulio Vargas. São Paulo, 2015.

SCHUMAHER, Schuma; BRAZIL, Érico Vital (Eds.). Dicionário Mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade: com 270 ilustrações. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.

SILVA, Ana Paula Procópio da; ALMEIDA, Magali da Silva. Uma mulher negra com nome e sobrenome: Benedita Sousa da Silva Sampaio. Revista Em Pauta: teoria social e realidade contemporânea, v. 18, n. 46, p. 278-283, 2020.

SILVA, Danusa Ester Gomes da. Representação da mulher negra na ALERJ: barreiras de classe, gênero e raça. 77f. Graduação em Sociologia pela Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2019.

SOUZA, Lidyane Maria Ferreira de. O trabalho de ministros de culto no Brasil e a conversão do Direito Brasileiro. Derecho y Religión, n. 16, p. 101-114, 2021.

SOUZA, Lidyane Maria Ferreira de. The 2008 Concordat in Brazil: ‘Modern Public Religion’ or Neo-corporatism? In: CARLING, Alan (Ed.). The social equality of religion or belief. A new view of religion’s place in society. Londres: Palgrave Macmillan, 2016, p. 216-225.

UNIVERSA. Benedita da Silva fala de aborto, fome, estupro e pede mais mulheres na política – Sem Filtro. Youtube. 18 maio 2021. Disponível em: https://bit.ly/3QrRgAc. Acesso em: 09 ago. 2022.

WERNECK, Jurema. Nossos passos vêm de longe! Movimentos de mulheres negras e estratégias políticas contra o sexismo e o racismo. Revista da ABPN, v. 1, n. 1, p. 1-11, 2010.

Downloads

Publicado

2022-09-02