A DANÇA E O TECIDO ACROBÁTICO: POSSIBILIDADES DE EXISTÊNCIAS E NOVAS VISIBILIDADES

Autores

  • Aline Teixeira Amado -

DOI:

https://doi.org/10.33871/21750769.2018.10.1.2270

Resumo

A partir da imbricação de duas linguagens artí­sticas, a dança e o tecido acrobático, próprio do universo circense, constrói-se um entendimento contemporâneo de corpo, revelando possibilidades sobre a experiência, visibilizando outros modos de olhar e fazer, sobretudo na prática pedagógica – ponto de partida da pesquisa. Elabora-se aqui uma compreensão de simultaneidade das relações que o corpo estabelece entre a dança e o tecido, que agem por contaminação, sem hierarquias nem homogeneizações, discorrendo sobre a condição de singularidade de cada corpo assim como sua complexidade nos modos de solucionar seu movimento. Com isso, a lógica de construção do corpo foge das generalizações deterministas, já que o corpo está em estado contí­nuo de atualização e provisoriedade. Convidam-se modos investigativos em dança para fazer parte do campo das correlações, para ampliar e potencializar acessos, entendimentos, conexões e possibilidades na relação tecido e corpo. Para isso dialoga-se com teóricas da dança, como Brito (2008), Bittencourt (2012), Schwab (2016) e Tridapalli (2011).

Palavras-chave: Dança. Tecido Acrobático. Modos Investigativos em Dança, Corpo.

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Referências

. "Esse modo de fazer dança expõe um corpo onde não há discurso de interpretação no sentido de simular algo a exemplo de uma história a ser contada, de uma história que não tenha sido vivenciada no corpo" (SHWAB, 2016, p. 26).

"O corpo que investiga é um corpo que age, movimenta-se a partir de um exercí­cio interrogativo, duvidando de seus modos corriqueiros de operar e que experimenta um conjunto de outras possibilidades" (TRIPADALLI, 2011, p. 56).

O estado de questionamento do corpo é uma condição/experiência em que o corpo presta atenção no modo como ele opera, ou seja, no modo como o próprio corpo experimenta suas realidades sensório-motoras em diálogo com as possibilidades de relações estabelecidas com o ambiente. (TRIPADALLI, 2011, p. 65)

"a investigação constitui-se de um processo transitório entre diferentes "˜realidades"™ intercomplementares: o aleatório e a regularidade, o instável e o estável, entre o código-estabilidade, sistematização e a probabilidade-incerteza" (TRIPADALLI, 2011, p. 56, grifo da autora).

É nessa experiência que o corpo se move em condições de possibili-dades. No exercí­cio intuitivo e especulativo, o movimento permite a experiência do, embora sempre incompleto, entendimento de suas possibilidades e limites, ou seja, no entendimento de sua lógica, de funcionamento e das possí­veis relações com o ambiente, enquanto produz dança. (TRIPADALLI, 2011, p.65)

Além da sua própria configuração, também aquilo que um corpo configura (uma dança, por exemplo) expressa sí­nteses circunstanciais da negociação adaptativa entre as restrições impostas por cada estrutura envolvida no seu processo interativo com o mundo. (BRITTO, 2008, p.29)

Na investigação em dança, o jogo entre perguntas e respostas se afasta do binômio "˜certo e errado"™, verdadeiro ou falso, e cede lugar í relação de "˜mais coerente e menos coerente"™. Na experiência investi-gativa, o corpo elabora suas soluções a partir de um exercí­cio de coe-rências, ou seja, um exercí­cio que emerge no processo de experimentação, quando o corpo desenvolve a lógica relacional entre as informações organizadas como soluções provisórias. Tal coerência refere-se ao modo e intensidade que a conexão entre essas informações ocorre. (TRIPADALLI, 2011, p.83, grifos da autora)

"a dança se constrói numa zona de transitividade e tem como objetivo efetuar conexões que possam mobilizar experiências, reorganizá-las e assim sustentar a produção de novos sentidos" (SHWAB, 2016, p.56).

Inteiramente diferente da noção de transferência de caracterí­sticas, contida na ideia de influência, a ideia de contaminação contém um sentido não diretivo nem autoral, mas constante e inevitável: refere-se ao caráter residual da interatividade processada entre os múltiplos agentes. Um relacionamento gerador de efeitos não-planejados que se propagam ao longo do tempo. (BRITTO, 2008, p.30)

"[...] não há como referir-se a causas ní­tidas nem tampouco proporcionais, pois trata-se de fatores múltiplos atuando simultaneamente e regidos por uma hierarquia particular a cada situação" (BRITTO, 2008, p.51).

"[...] configuram processos contí­nuos e difusos" (BRITTO, 2008, p.52)

: "[...] não é possí­vel prever qual regime de funcionamento será adotado pelo sistema, dentre os possí­veis abertos pela perturbação sofrida, pois são as próprias flutuações que definem tal escolha" (BRITTO, 2008, p.48).

A vida de todo organismo é movimento. O corpo, como tudo que é vi-vo, se transforma pelo movimento. Enuncia em imagens seu caráter peculiar de existir em permanente fazer, ou seja, de estar sempre mu-dando. Assim, as imagens no corpo surgem como resultados provisó-rios em um determinado espaço-tempo. Dessa maneira, decorrem de procedimentos traduzidos em estados temporais sucessivos; um pro-cesso de transcurso irreversí­vel, que se encontra implicado na própria sobrevivência do corpo. (BITENCOURT, 2012, p.52)

Referências

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Publicado

01-06-2018

Como Citar

Amado, A. T. (2018). A DANÇA E O TECIDO ACROBÁTICO: POSSIBILIDADES DE EXISTÊNCIAS E NOVAS VISIBILIDADES. O Mosaico, 10(1). https://doi.org/10.33871/21750769.2018.10.1.2270