Disputa, imposição e negação em trabalhos escolares sobre história e cultura Afro-brasileira e Africana
DOI:
https://doi.org/10.33871/23594381.2017.15.3.1295Resumo
Diante dos processos de disputa, imposição e negação a respeito da história e cultura Afro-Brasileira e Africana, o propósito da pesquisa é identificar e analisar as respectivas representações em trabalhos escolares do Colégio Estadual do Campo Dr. Antonio Pereira lima, Distrito Panema, município de Santa Mariana, Paraná. As fontes foram produzidas para o Dia Nacional da Consciência Negra no período de 2013 a 2015, sendo divididas em dois grupos compostos por textos e imagens: o primeiro, parte da hipótese da existência de um discurso estereotipado e preconceituoso advindo da classe dominante branca a respeito da história e cultura Afro-Brasileira e Africana; já o segundo surge possivelmente da imposição de um novo discurso, fruto das reivindicações de reconhecimento e valorização da diversidade cultural advogadas pelo Movimento Negro e por meio da Lei 10 639/03. Este estudo possibilita estabelecer paralelos entre representações advindas do "sistema hegemônico branco e ocidentalizado" e as representações anti-hegemônicas, considerando que o texto da Lei 10 639/03, que insere o ensino de história e cultura Afro-Brasileira e Africana nas escolas, também se constitui em uma representação, e não anula os processos de negociação, conflitos e tensões entre o padrão cultural negro e africano e o padrão branco europeu na dinâmica pedagógica escolar. A partir do debate em torno do conceito de representações de Chartier (1990; 1991; 2002), as representações são tomadas como estratégias e práticas de tensionamento em meio às relações de poder. Portanto, não se tratam de uma questão de verdade e falsidade, mas de uma lógica de representação que manipula e legitima o discurso de quem enuncia.
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