Experiência abstrata da arquitetura na síndrome de hipervisibilidade do observador

Recortes geométricos de Roma, Florença e Veneza

Autores

DOI:

https://doi.org/10.33871/23580437.2023.10.2.51-65

Resumo

O consumo da arquitetura e do património desencadeado pela promoção do marketing e pressão turística das cidades, tem transformado os centros históricos e desvirtuado a identidade, a experiência e fruição dos lugares edificados. A homogeneização cultural e a urgência social da condição pós-moderna criou um observador frenético e hiperativo, num estado de sobressalto e exaustão, em permanente exposição e excesso de informação. A este estado chamamos síndrome de hipervisibilidade. Condição de mal-estar que afeta as funções cognitivas, reduz a disponibilidade mental e aumenta a ansiedade, com sintomas de desorientação, desrealização, frustração, melancolia, dispersão visual, desatenção dividida, e súbito interesse por Arte. Contrária à síndrome de Stendhal, na síndrome de hipervisibilidade do observador não há alteração psicossomática pela qualidade e valor da obra artística; a alteração deriva da sobrecarga atencional do excesso de luz e transparência, que na urgência de “ver tudo” desencadeia uma hipovisualidade que reduz a espessura e a textura da arquitetura, tornando-a lisa, positiva, plana e uniforme. A abstração da experiência planificada separa os sentidos do corpo, com dissociação cognitiva dos elementos arquitetónicos e da composição atmosférica, num evidente desajuste entre tempo real e espaço ficcionado. Emerge a fobia ao aborrecimento num desassossego de contínua falta de tempo, justificado pela busca da “experiência do inesquecível”. A abstração espacial pode ter como metáfora os postais ilustrados de modelos 3D planificados em miniatura, que reproduzem recortes de fachadas e invólucros vazios, num fetiche de verossimilhança que elimina o volume, a sombra e a profundidade. O exemplo das cidades italianas, como Roma, Florença e Veneza, permite intersetar a perfusão de obras de excecional valor arquitetónico e cultural com a composição de percursos patrimoniais, a identidade do lugar e a experiência individual da hipervisibilidade do observador na multidão.

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Biografia do Autor

Shakil Rahim, Faculdade de Arquitetura, Universidade de Lisboa/ CIAUD

Shakil Y. Rahim é Professor de Desenho e Desenho Arquitetónico no Departamento de Desenho, Geometria e Computação, da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa. Arquiteto pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa, e Doutor em Arquitetura, especialidade Desenho, pela Universidade de Lisboa, com tese sobre as funções da atenção visual do desenhador no fenómeno de desenho de observação. Membro da comissão editorial da revista cientifica "The International Journal of the Image" (University of Illinois, Chicago) e autor do livro "O Desenhador - Estudos Cognitivos, Artísticos e Fenomenológicos". É investigador do CIAUD/FAUL nas áreas de desenho, atenção visual, processamento espacial, atividade neurocerebral, experiencia do gesto e cognição humana.

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Publicado

2023-12-15

Edição

Seção

Artigos